Por isso, as pessoas se lembram com carinho da primeira professora.
Obviamente eu não poderia lembrar dela com carinho.
Simples, para a professora eu tinha dois graves defeitos: era estrangeira e tinha um bebê em casa. E como estudei os dois primeiros anos em Portugal, em uma época que bater nos alunos mais "rebeldes" era coisa normal e usual, imaginem como foram esses anos.
Ela não respeitava o fato de que eu, criança, e com irmãos adolescentes brasileiros, tinha foneticamente, diferenças que não eram graves. Não respeitava o fato de que fisicamente eu era menor que ela (então bater era muito fácil). Ela não respeitava o próprio destino que tinha, pq não engravidava e descontava em mim pq todas as minhas redaçães, giravam em torno do meu irmãozinho caçula que na época era um
Sabem o que é chegar na classe e entrar na fila pra dar beijinho na professora e ela virar o rosto? Sabe o que é nunca ganhar um elogio da professora? Ou ainda, nunca poder usufruir o espaço com tapetinhos e livros legais pra quando quiséssemos descansar da aula? A minha sorte é que eu não era negra como dois colegas que eu tinha, um moçambicano e uma angola. Esses, meus caros, eram mais torturados psicologicamente que eu. A
Bom, vou poupá-los de muitas histórias escabrosas dessa vaconilda,
Fato é que sou neta e filha de professores. Nunca tinha me conscientizado desse fato até os meus 10 anos. Quantas vezes nesta mesma sala que eu digito, vi (e ajudei tb)(ou acho que ajudei) meu pai a corrigir provas, preparar aulas. Nessa época, meu pai não dava mais aulas da profissão dele e sim aulas de Geografia, História e OSPB, matéria esta que nem existe mais.
E só percebi o quanto os alunos gostavam dele, quando ele morreu e encontrei na temida escrivaninha dele (pq ele nunca me deixava xeretar lá), os recados carinhosos que ele recebia, as caricaturas que faziam dele, as muitas placas que ele recebia nas formaturas......o reconhecimento dos colegas. E acho que mesmo ele tendo colecionado esse acervo, ele não se convencia que ele merecia tudo aquilo. Não, meu pai não era modesto, era português mesmo. Ok, piada besta. Modesto ele não era mesmo, mas era um vaidoso discreto.
Há muitos anos, revirando as coisa velhas que ninguém em casa joga fora, encontrei os diários de classe da minha avó.
Alguns diários eram em espanhol, pq minha avó morou uns anos na Venezuela e deu aula por lá tb. Um coisa é certa: as anotações disciplinares que ela fazia dos alunos, não tinham muita diferença pra minha professora
Daí que os anos se passaram.... tipo, uma década e o meu irmão caçula se envolveu com um projeto social do Mackenzie em dar aulas de cursinho pra alunos carentes. O Tiago dava aulas de química, física e matemática. (O bebê cresceu e ficou inteligente)
Fisicamente, é o irmão que mais se parece com o pai e o que menos conviveu com ele. Porém vendo ele na frente da lousa, foi como reviver a cena de ver o pai dando aula. Os mesmos tiques. E que maior legal ouvir no final da aula que ele deu "ah, professor! Fica mais uns 15 minutinhos...."
Eu achava que tinha escapado da "sina" de ser professora. Até que comecei no voluntariado como vcs bem sabem de tanto que escrevo.
Não tenho pretensão de ser boa professora. Isso acontece. Ou não. Um dia talvez eu perceba que eu não levo o menor jeito pra coisa. Talvez eu perceba que eu levo sim jeito pra coisa. O meu intuito é ajudar. E ajudar as pessoas a terem mais discernimento das coisas, mais independência, na minha opinião é mais importante que dar cesta básica.
Também entendo que não verei o resultado de todo o esforço que tenho em preparar as aulas, de responder todas as dúvidas que surgem, de corrigir tantas redações.... é um trabalho silencioso e de longo prazo para constatar os resultados. E sei que talvez eu nem veja esses resultados.
Mas me sinto feliz onde estou e fazendo o que faço. E sei que conto com a ajuda de várias pessoas pra isso. Uma delas é da minha irmã (que é professora do jeito dela), da Dona mãe que separa os jornais pra os meus alunos e não me faz os esquecer (e ela já deu aulas particulares de francês), do Namorado que me apóia e já veio até dar aula pra os meus alunos (e é professor técnico da área dele) e de tantos amigos que me ajudam de diferentes formas.
Ontem, recebi alguns abraços e felicitações pelo meu dia, que seria hoje. Mas o melhor presente ganhei ontem mesmo quando fui corrigir as redações e duas delas não precisaram de nenhuma correção. Estamos falando de alunos que chegaram à Fundação, analfabetos funcionais.
Tem melhor presente que esse?
Todo mundo que se põe a explicar qualquer coisa de boa vontade para alguém, é um professor.
Feliz dia dos professores!
Menção honrosa: a professora do Charlie Brown que acabou sendo marcante sem ter nunca aparecido. Sua voz nos remete aos muitos adultos que nos atormentam todos os dias.
2 comentários:
rsrsrsrs
sem comentarios....
obrigado por existir em minha vida!!!
tanto vocÊ quanto o andré,que são meus eternos professores, forte abraçs...
Nhóóóóó, que bonitinho. Sou grata a vcs que me ensinam muito, viu? Mesmo, vc... Fo-ééé-guueêêêr.
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